01/09/2008

MILOS FORMAN

O aclamado cineasta tcheco, Milos Forman (nome de batismo: Jan Tomáš Forman) teve uma infância difícil na Tchecoslováquia (atual República Tcheca) ocupada pelo exército nazistas na década de 40.

Após a morte de seus pais nos campos de concentração, Forman viveu o restante dos anos de guerra com parentes distantes, sempre em fuga e convivendo com o medo.

Terminada a guerra, o jovem Milos teve a oportunidade de frequentar uma escola pública e, anos mais tarde, optou por estudar cinema (especialmente roteiros) na Academy of Performing Arts de Praga.


Sua filmografia é repleta de temas e personagens contestadores em busca do ideal supremo da liberdade. Dois de seus filmes registraram seus títulos na história do cinema mundial: Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, 1975) e Amadeus (1984), ambos premiados com o Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor.


A obra inicial do cineasta, permanece popular até hoje junto aos amantes do cinema tcheco.

Filmes como Lanterna Magika II (Magic Lantern II, 1960), Konkurs (Audition, 1963), Cerný Petr (Black Peter, 1964), Lasky Jedne Plavovlásky (The Love of a Blond, 1965), e Horí, má Panenko (The Firemen's Ball, 1967), ainda são exibidos regularmente nos cinemas.

À seguir, Forman dirigiu o segmento The Decathlon, que faz parte do documentário Visions of Eight (1973), sobre as Olimpíadas de 1972. Além de Forman, mais oito cineastas participaram do projeto. Entre eles, Claude Lelouch, Arthur Penn e John Schlesinger. O maestro Henry Mancini - famoso pelo tema da Pantera Cor-de-Rosa, assinou a trilha-sonora.

O grande sucesso de Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, 1975), deu a Forman, o reconhecimento como cineasta artístico e comercialmente rentável.

Produzido por Saul Zaentz e Michael Douglas, foi amplamente premiado. Recebeu nove indicações ao Oscar e venceu cinco: melhor filme, diretor, ator (Jack Nicholson), atriz co-adjuvante (Louise Fletcher) e roteiro adaptado.

Lá, ele percebe que os pacientes não são realmente loucos, apenas desajustados marginais sociais. Rebelde, McMurphy passa a influênciar os internos, gerando uma anarquia cômica que bate de frente com a rígida política da sádica e cruel, enfermeira Mildred Ratched (Fletcher).

Além de todas essas conquistas, Forman declarou que seu maior orgulho foi o recorde de exibição do filme que, por doze anos (1975 - 1987), permaneceu em cartaz nos cinemas da Suécia. Uma marca imbatível até hoje.

Seguindo sua tendência contestadora, em 1979, Forman lançou sua versão para o cinema do musical, Hair, famoso na Broadway dos anos 60 e 70 que marcou a Era Hippie.

A história narra a aventura de Claude (John Savage), um rapaz do interior de passagem por Nova York onde irá se alistar para lutar na Guerra do Vietnã. Ao conhecer o grupo de hippies liderado pelo carismático Berger (Treat Williams), passa por uma experiência que se mostra reveladora, apresentando ao "caipira" uma nova perspectiva sobre a guerra e o período em que vive.

Tudo isso ganha força quando Claude se apaixona por Sheila (Beverly D'Angelo), uma jovem de família rica.

"Assisti a uma das primeiras apresentações do musical em Nova York, nos anos 60 e na ocasião, conversei com (os autores) Jimmy Rado e Gerry Ragni sobre uma adaptação para o cinema. Na época, meu inglês ainda era muito limitado, por isso, quase não entendi o texto, mas adorei as canções."

"O forte manifesto contra a guerra de Hair, causava-me uma sensação meio esquizofrênica. Para mim, todos que lutavam contra o Comunismo eram heróis e essa era a minha percepção dos americanos no Vietnam. Mesmo assim, decidi fazer o filme pois, a liberdade de se poder expressar sua opinião contra a guerra era mais importante para mim."


Produzido por Dino De Laurentis e baseado no livro homônimo de E. L. Doctorow, Na Época do Ragtime (Ragtime, 1981) é ambientado no começo do século XX, e inclui referências a personagens e eventos reais da época.

Mais uma vez, Forman aborda um tema contestador ligado à liberdade e aos direitos humanos, nesse caso, a história de um julgamento envolvendo fatores políticos e raciais.

A trama gira em torno do assassinato de um rico arquiteto branco por um jovem negro, motivado por relações sexuais inter-raciais. Nesse cenário, as convenções sociais da época elevam o caso à proporções históricas.

O elenco de Ragtime marca o último trabalho no cinema do lendário ator James Cagney, que já doente durante as filmagens, faleceu logo após sua conclusão.


Após cinco anos de grande sucesso nos palcos europeus e americanos, a peça Amadeus, um drama biográfico escrito por Peter Shaffer, foi adaptado para o cinema pelo próprio autor e conduzido com maestria por Forman.
O filme Amadeus (1984) emocionou platéias no mundo inteiro, foi amplamente aclamado, e é considerado (até hoje) o melhor trabalho do cineasta.

Visando alcançar a maior audiência possível, Forman montou o elenco apenas com atores americanos, evitando diferentes sotaques. Tom Hulce nos delicia com a inesquecível gargalhada de Mozart, e o Salieri criado por F. Murray Abraham, lhe rendeu o Oscar de melhor ator.

"A escalação do elenco foi complicada. Muitos atores famosos queriam participar do filme, mas desde o início, meu desejo era olhar para a tela e ver Mozart e Salieri ao invés de rostos conhecidos interpretando os personagens. Tom Hulce e F. Murray Abraham foram escolhas excelentes."

Com locações em Praga e Viena, Forman teve a oportunidade de filmar cenas no Teatro do Conde Nostitz, onde as óperas de Mozart, Don Giovanni e La Clemenza di Tito, fizeram sua estréa dois séculos atrás.

Amadeus foi indicado para 53 prêmios e venceu 40. Entre eles, oito Oscars (incluindo melhor filme, diretor, ator, e roteiro adaptado), quatro Globos de Ouro e um prêmio DGA (Director's Guild of America).



Em O Povo Contra Larry Flynt (The People vs. Larry Flynt, 1996), Forman retoma o tema da liberdade de expressão através da biografia de Larry Flynt, o polêmico editor da revista "pornográfica" Hustler, que enfrentou vários processos na justiça para defender os direitos descritos pela constituição americana.

O filme acompanha a vida de Flynt (Woody Harrelson) desde a infância pobre no Kentucky, passando por sua polêmica ascenção no mundo editorial, seu grande amor, Althea (Courtney Love), o atentado que o deixou paralítico, a amizade com o advogado Alan Isaacman (Edward Norton), até sua maior batalha judicial contra o reverendo Falwell, que chegou até a Suprema Corte, ficando conhecido como o caso Hustler Magazine vs. Falwell.

A abordagem corajosa de Forman mostra Larry Flynt na forma mais fiél possível. Quem ele é, e o que faz, não é romantizado (a pesar dos aspectos pornográficos terem sido amenizados). Isso reforçou a principal mensagem do filme: todos os americanos tem o direito de se expressar livremente, mesmo que outros desaprovem seus ideais.


O roteiro levou três anos de pesquisas e entrevistas com amigos, familiares e até mesmo inimigos de Kaufman para narrar com imparcialidade sua conturbada vida e carreira.

A excelente trilha-sonora com músicas do próprio Andy Kaufman e canções da banda R.E.M. - como a do título do filme, Man on the Moon - é um destaque do filme.

Em 2010, aos 78 anos de idade, Milos Forman completou 50 anos de carreira. Desde que chegou à América no fim dos anos 60 (quando foi obrigado a deixar a extinta Tchecoslováquia), conquistou Hollywood - e o mundo - com trabalhos emocionantes que destacavam claramente um tema muito importante: a liberdade.


"Filmes são experiências profundamente poderosas durante suas duas ou três horas de projeção. Depois disso, eles passam a ser apenas mais um resquício entre as muitas experiências de nossas vidas. Assim, não devemos superestimar o poder deles para influênciar a sociedade."